sábado, 4 de abril de 2015

Ser mulher

Precisei levantar da cama após um dos meus clássicos momentos de reflexão noturna para escrever esse texto. Naturalmente sei que algumas pessoas me associam à textos tristes, de amor, enfim, sentimentos do coração. Mas hoje parei para pensar no que eu me tornei. As preferências que tomaram as rédias da minha vida, e certamente me fizeram mudar muito. É até engraçado escrever sobre, acho que nunca me imaginei fazendo isso, descrevendo como é ser mulher pra mim, e de como me tornei uma.

Você já se perguntou o que é ser mulher? Óbvio que deve estar pensando numa distinção biológica. Mas o que quero escrever vai além do sexo e a forma de um corpo. Falo de traços, de escolhas, acúmulo de experiências, características. Ser mulher pra mim que até pouco tempo atrás era tão menina é quase que me julgar uma anciã hoje em dia. Lógico que mantenho muitos traços de menina ainda, acredito que a começar pelo brilho nos olhos, e leveza de um sorriso. Mas se tratando de maturidade vejo que minhas experiências definiram muito esse caminho de ser e me tornar mulher. De olhar numa direção e falar é aquele ponto ali que quero alcançar, e principalmente chegar até lá sem precisar pisar em alguém, caminhando mesmo que devagar e em passos leves. É você ter carregar certas responsabilidades nos ombros e realmente não ter com quem compartilhá-las, e mesmo assim não desistir. É realmente ser forte. E mesmo envolta a tanta sensibilidade e fragilidade tirar forças de onde não se imagina ter para continuar. Na prática parece bem simples, mas olha, de simples não tem nada.

Aprendi a usar meus olhos de menina e treiná-los como se fossem olhos de águia, tentando me afastar do que não me faz bem. Aprendi que meu olfato não é feito só para sentir bons aromas, mas também para sentir o cheiro do perigo. E usar de sagacidade para garantir mais um dia de sobrevivência no meio dessa imensidão que é o mundo em que vivemos. Me permiti olhar para o espelho e ver além do que a imagem refletia, sempre procurando o algo mais. E sempre procurando me tornar um ser humano melhor depois de decepções, de perdas, de descobertas e até mesmo vitórias. E quanto as vitórias, nunca deixando que elas me tirassem a humildade, acho que esse é o fundamento da vida. Humildade, talvez uma das palavras mais fortes e bonitas que pude conhecer ao longo da minha curta vida. E um sinal breve de que a sabedoria deva estar tomando forma dentro de mim.

Sobre meus sonhos muitos permanecem os mesmos de menina, talvez pela minha essência mesmo, afinal somos seres mutáveis, mas sempre temos um ponto inicial, alguma referência. E acho que isso fez com que os meus sonhos se tornaram mais firmes, densos, mais meus. Minhas opiniões se tornaram mais fortes, assim como minha postura mediante as situações que fui posta diariamente. Hoje realmente entendo que sou posta à prova a cada instante, e que a vida é um grande desafio, porém nunca sabemos qual é o 'prêmio' final, acho que talvez seja o simples fato de ter tido a oportunidade de recomeçar todas as manhãs. É sim um grande milagre e mais ainda um privilégio. Percebi também que sempre temos duas opções, uma delas é ficar olhando o tempo passar diante dos seus olhos, ou sair por aí arriscando viver e deixar um belo legado. Nesse momento não falo como é ser mulher, mas sim como é ser humano, e o prazer que isso me dá.




Como mulher vejo o quão me faz me sentir viva poder mostrar que meus maiores valores não provém das minhas curvas. Mas sim da minha inteligência, integridade, força e principalmente, da minha humanidade. E o quão bonito isso é, porque isso vai morrer comigo, e se eu tiver filhos, isso será passado para eles. É uma reação em cadeia. Como mulher sinto que preciso ser respeitada, e que não careço de admiração de muitos, mas quem sabe de um só, ou daqueles que me cercam. Vejo que o tempo realmente avança como um louco num relógio, mas que se eu quiser eu tenho total direito para sentar e refletir sobre a minha vida e que decisões devo tomar, afinal nada é tão importante como o rumo dela. Hoje me permito escolher mais minhas amizades e não acho necessário ter realmente uma legião de pessoas perto de mim. Mas algumas em que possa confiar e dividir momentos dos mais simples aos mais complexos. Vejo que sapatos e vestidos não são os mais valiosos itens da minha vida, ou da minha lista de conquistas. Vejo que os valores morais são. E o que eles representam pra mim? Absolutamente tudo. E juro que minha consciência é muito mais tranquila hoje depois dessa análise. Me sinto mais leve, completa e inteiramente saciada assim. Como mulher planejo ser feliz na minha carreira, ser feliz comigo mesma, criando padrões e expectativas que dependam somente de mim. Quero ter uma vida financeira equilibrada, que me ajude a realizar minhas intenções, meus antigos e novos projetos de vida. Como mulher começo a realmente a pensar na possibilidade de gerir um ambiente familiar a longo prazo. Quem sabe ter alguém em que eu seja capaz de ser justa e adulta quando algo me incomodar comunicando claramente sobre, e agradecer com candura quando algo me fizer bem. Pode ser que isso ajude a completar, ser um bônus ao que entendo como felicidade.

Bom, é isso, eu tive um estalo bem definido. E foi ótimo! Espero fazer com que outras pessoas, tanto mulheres quanto homens possam refletir também.